quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Velha?!

Estou velha!  Mas não aquele velha de quem não ser quer divertir como antigamente! Ainda quero sair pela noite dentro e ficar até ver o sol nascer e o céu ganhar o azul alaranjado. Ainda quero sair e conhecer pessoas novas, com quem discutir assuntos variados que fazem o tempo passar rápido.
Estou velha porque já ninguém da minha idade quer acompanhar-me noite fora. Porque todos dizem que a seguir vão para casa, ou que vão só sair um bocadinho.  Porque já não encontro pessoas conhecidas pelas ruas cheias de bares. Porque as pessoas conhecidas ficam todas em casa, e as desconhecidas que vejo pela rua parecem todas que estavam para nascer quando eu já sabia o alfabeto e fazer contas.
Porque por muito que queira sair, o meu tempo já passou, e é tempo de ser uma pessoa séria, trabalhar, arranja família, eu sei lá! É o tempo das coisas ficarem dificeis. E de tão difíceis que sempre foram eu só queriam que fossem fáceis.
Mas acho que não pode ser como queremos?!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

E se

E se eu decidir ir e não voltar? Diz-me, partirias atrás de mim? Tentarias alcançar-me para que te não desse as costas e me esquecesse do sabor dos teus lábios e da cor dos teus olhos? Chamarias o meu nome, com esperança que eu ainda soubesse como soa o teu?
Que farias se eu me fartasse deste mundo, batesse a porta e corresse na procura do próximo? Irias agarrar-me com força e pedir permissão para me acompanhares?
Se me desse a coragem que me falta, será que também darias um passo na minha direção?

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

"não esperes por ninguém"

Uma das poucas coisas que aprendi ao longo dos anos foi "não esperes por ninguém". 
Deixa para lá quem te puxa para trás. Parte à descoberta, sozinho mesmo, e não fujas quando encontrares obstáculos. Não leves ninguém contigo, muito menos quem não queira ir. Não te preocupes, lá encontrarás pessoas semelhantes a ti. 
Leva-te a ti e à tua vontade de fazer algo. E dá o melhor de ti. Porque enquanto esperas o mundo não pára, e um dia olhas para trás e pensas no que não conseguiste fazer.
Começa já hoje.

Afeição

Cansei de me comparar a ela. De te ver fiel seguidor da sua beleza. Ela que chegou bem depois de eu ter sido presença no teu abraço. Reparo no seu sorriso e nas maçãs do rosto salientes. Invejo a cor e forma do seu cabelo, e a forma descontraída como lhe mexe. Como se mexe ao som da música da moda. Reparo no seu corpo e como parece dona de si, sem sequer ligar para que a observes. Vejo a forma dos seus olhos, felizes, guardando para si que às vezes também chora.
Invejo-a porque procuras chamar a sua atenção, e ela nem quer saber quem és. 
E eu finjo não querer saber de ti, do outro lado dela, sorrindo-lhe e escondendo o peso que me fica no coração por não ser o alvo da tua afeição.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Coimbra dos doutores

E então deu-me um daqueles baques que penso só se darem naqueles momentos finais de uma fase. Passou.
As memórias permanecem vívidas. Dos dias loucos e sem fim, das brincadeiras parvas, dos risos por razão nenhuma. De todas as pessoas maravilhosas que fui conhecendo ao longo dos anos. Das que ficaram e das que prosseguiram caminhos diferentes. 
Hoje, novos rostos começam a sentir aquilo que senti há tanto tempo atrás: que vai ser assim para sempre; que a noite será sempre uma criança para quem tem alma jovem, mesmo, e quando, nascerem as rugas na face; que a sensação de pertença nunca vai passar; que todos os dias há uma nova aventura.
Não há que ter medo do fim. Na verdade, chega o momento que queremos um novo começo porque esta aventura já não é uma aventura e já não tem nada para oferecer. Os rostos vão mudando e tornam-se desconhecidos. E já nem os queremos conhecer.
A história será sempre bela e mágica. Os melhores anos da minha vida. Até agora.
Há o momento de dizer adeus. Não o corte profundo de quem tem que ir embora e nunca mais voltar. Fica-se. Mas o coração sabe que não há nada a acrescentar. 
Observo os novos rostos e penso "Nem imaginam como eu te vivi e te amei Coimbra dos doutores, como tu e as tuas (minhas) pessoas foram o meu verdadeiro lar". E sorrio, porque estou na posse de um segredo que eles ainda não conhecem.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Ao Outono

Começam as folhas a cair e o chão enche-se de cores escorregadias. O vento começa a soprar frio e os casacos apertam-se até cima. As estrelas não se vêem mais com o crescente das nuvens no céu. 
Afundo-me um pouco mais na cama, porque a rua vê-se bem vista de dentro. Pego um livro que me leva a outra história, já que a minha não tem vontade de começar. Meto em pausa o mundo inteiro até que as flores voltem a desabrochar. 
Até que o amor nasça outra vez.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Sonho

Fechei os olhos, estendi a minha mão para que me agarrasses de uma vez. 
Quis ir contigo para além mar, onde só estivessem as estrelas por cima de nós e se ouvisse apenas o rebentar das ondas na areia fina da praia, cama onde nos deitávamos. 
Desejei eu, que lá falássemos sobre os nossos sonhos e sobre os nossos desejos. De mãos dadas, olhando o infinito, e sabendo-nos tão juntos. Que o silêncio nos aconchegasse, como bem aconchegam os teus braços o meu corpo febril depois de ser tão frágil longe de ti. 
Quis que quando acordasse ainda lá estivesses. Para saber que não tinha sido outro sonho.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Um passo de cada vez e um sorriso

Queria uma força sobrenatural. Um sorriso contagiante. Ter vontade de rir com o vento e dormir com a natureza.
E eu ia, saltando os muros que nos prendem ao passado e ao medo do futuro. Saltava alto, como campeã olímpica, e venceria todos os obstáculos. E a minha medalha seria a minha própria liberdade.
Sentiria o toque da areia na palma de mão, e como cada grão cai e faz barulho. Veria o mar agitado sem ficar inquieta, e relaxaria na presença de tempestades. Dançaria com a chuva e sorriria para todos aqueles que passassem. 
Um dia. Um dia eu vou numa aventura. Eu prometo.