terça-feira, 11 de abril de 2017

Hoje

A vida estava em pausa. O amanhã pensaria-se depois. 
O corpo descansava ao sol, a pele ficava mais morena, o cabelo mais claro, e a respiração era lenta e calma. Os risos eram imensos. E o mar banhava os pés. O amanhã pensaria-se depois.
Depressa as folhas começaram a cair. As paisagens passaram do amarelo e azul para os laranjas. Os abraços aqueciam o corpo que começava a ficar frio. As esplanadas eram substituídas pelos interiores O amanhã pensaria-se depois. 
E ao virar da esquina chegou o frio. O tempo cinzento. A noite era maior que o dia. Era altura de recolher a alma, ficar a sós com o eu, respirar o silêncio. Sossegar o próprio desassossego. O amanhã pensaria-se depois. 
E então as flores desabrocharam. Abriram-se janelas, para se respirar o ar quente. Era tempo de se abrir ao mundo de novo. Aos abraços, aos sorrisos, às conversas profundas sobre nada. Os caminhos eram palmilhados centenas de vezes. Os cheiros e as cores eram vibrantes. O amanhã pensaria-se depois. 
Não sei que amanhã será esse. O hoje sabe-me tão bem.