domingo, 29 de dezembro de 2019

Inesperado

Furaste a multidão. E entre a musica e a dança, notei-te.
E de repente, inesperado, estavas a cantar para mim. E aí, soltinha, cantei contigo. E naquele momento, não havia razão, não havia sentidos, nem lógicas. Não havia porquês. Era aproveitar o momento.
Num momento de paragem, naquele reboliço, perguntei o teu nome. E não soube mais nada sobre ti. E não sabias mais nada sobre mim.
Procurei-te em todo o lado.
Será que nos voltamos a encontrar?

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Não estavas em lado nenhum.

Fechei os olhos. Senti a brisa a soprar. Respirei.

Não estavas em lado nenhum.

Respirei.
Não quis abrir os olhos.
Dei um passo.
E a seguir outro.
Avancei, apalpando o redor.

Tropecei.
Cai.

Mas recusei-me a abrir os olhos.
E se abrisse e não estivesses lá?

Fiquei prostrada ali. Em nenhures.
As minhas mãos não reconheciam o local. Apalpavam, faziam feridas em pedras afiadas.
E eu não abria os olhos.

Respirei.

Com os olhos fechados ouvia apenas o som das folhagens das árvores longe, ao redor.
Sentia o cheiro de terra molhada.
Será que tinha chovido?

O quanto eu queria ver.

Será que havia animais?
Será que havia flores?
Será que havia lagos, árvores?
Será que havia outras pessoas?

E se não estivesses lá?
O que iria acontecer?

De repente não pareceu tão importante.
Abri os olhos.
Não estavas.
Mas era tão mais fácil avançar de olhos abertos.

sábado, 15 de setembro de 2018

Promessa

Nunca tinha reparado em ti. Não, com esse ar antipático e desinteressado.
Num segundo não te conhecia, no segundo seguinte os nossos lábios brigavam loucos, as línguas entrelaçavam-se, e as mãos tinham bicho carpinteiro. Contra a parede, contra a minha consciência. Eram só sensações misturadas, e enquanto a minha mente sussurrava não, todo o meu corpo gritava sim.
O desafio que os teus olhos me lançavam, alimentavam a minha vontade de quebrar essa tua confiança. De te fazer implorar por mim. E deixaste-me ir embora, com a promessa de que não ficávamos por ali.
Vais cumprir?

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

(in) certezas

Cheguei a mais uma (in)certeza.

Entre as inúmeras e incontáveis queixas que a minha mente cria ao longo do dia, e a minha boca solta ao longo da semana e do mês, noto a recorrente e simples "odeio ser tudo incerto".
O futuro na profissão que escolhi é incerta, o meu estado profissional actual é incerto, estou a contar com umas resposta que não sei quando ou se irá chegar, não consigo planear a próxima semana com a antecedência que desejava - o futuro, então, é o caos completo.
Gosto de planear, gosto de saber o que vou fazer e quando. Planeio o dia seguinte, a que horas tenho que estar onde, quanto tempo demoro em determinada actividade, a que horas tenho que sair? Agenda aqui, agenda ali, tudo ao pormenor, para não ser apanhada de surpresa. E "boom", adeus paz, tudo se desencaixa.

Mas apresentem-me uma fórmula, digam-me que as coisas funcionam de forma X, ou de forma Y, e eu digo-vos "depende". Digam-me a solução para o meu problema, e eu mostro-vos como penso em todas as possibilidades e incertezas e não há solução.
Tentem marcar uma coisa comigo para daqui a um mês, e eu digo-vos que é muito cedo para saber se posso, porque a vida acontece e até lá quantas vezes a terra já girou?

Eu não suporto incertezas, mas sou viciada nelas.
Não são as incertezas inúmeras possibilidades para sermos quem quisermos ser, e a liberdade para escolher mudar o nosso caminho?

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Hoje, recordei-te

Hoje, entre o beijo do sol na minha pele, recordei-te.
Recordei os caminhos de fogo que traçavas com os teus lábios, e como me enlouquecias nos teus braços.

Hoje, não reconheço essa insanidade com que me arrebataste a mente e o coração. 
Gostava de voltar a tocar essa paixão que me atordoava, que me deixava a tremer só de lembrar ou de antecipar a tua companhia. Essa paixão era combustível que não parava de me consumir. 
Não só o meu corpo te desejava, mas também a minha mente. Quem eras tu? Tão senhor de ti, que um olhar bastava para captares a minha atenção.

Hoje, recolho pequenos pedaços de lembranças desses tempos, e vejo como possuías todo o meu ser. Não só os meus pensamentos, mas conseguiste também o meu coração. Nas pausas entre a paixão que me (nos?) consumia, davas-me a tua mão para eu segurar e abraçavas-me na esperança de acalmar os fantasmas que me perseguiam. 

Hoje, questiono se foi tudo um jogo para ti, ou se o carinho entre nós não foi só imaginação minha.
Afastaste-te da mesma forma inexplicável com que te aproximaste, e parece que o mistério ficará para sempre por resolver. 

Criaste um patamar difícil de alcançar.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Dia longo

Sabe amargo o café do dia. Vai uma bolachinha para ajudar a empurrar?
É que o café ajuda a empurrar o dia. Um gosto familiar dentro de quatro paredes a que não ser quer pertencer.
Diziam que chovia hoje.  O sol está forte. O outono meteu pausa e não quis chegar. Para me ajudar a empurrar o dia.
Sinto o calor na costas, a chávena no lábio. Fecho os olhos.  Tenho que ir retocar o batom. Mais cinco minutos. Só mais cinco minutos antes de ir. Para ajudar a empurrar o dia.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Num quarto estranho
Escuto o silêncio
Da minha alma muda e nua.
Espero que o calor abrande e o sono chegue.
Imagino os contornos das coisas, com a parca luz da rua. Assim como imagino os contornos de um futuro pouco iluminado. Pouco ou nada antevejo e resisto à vontade de me fechar em mim. Resisto por não ser feita de desistências. Mas fecho os olhos. O sono há-de chegar. E depois, talvez, o sonho.